Há trezentos anos que Aiwass vivia em paz entre reinos. Poucos relatos de batalhas ou assaltos eram ouvidos por entre as vielas de Okwe ou as grandes rotas que ligam Ashkharh ao Deserto instável. Este período de bonança trouxe grandes desenvolvimentos agrícolas para o povo de Wattu, ao passo que permitiu aos habitantes de Okwe desenvolverem diversos modos industriais de comercialização, vendendo máquinas e produtos por todo o continente. Mas toda a Calmaria antecedia um grande desafio histórico.
Em uma atípica noite de outono, o calor incomum condicionou o povo de Salvii a dormir mais tarde e a população de Chenard a celebrar com muita cerveja e churrasco. Porém, há alguns quilômetros de Forest Moon, uma grande fissura na terra e no mar traria a tona o Daath, um abismo com fim insondável. Deste dia em diante, nada em Aiwass permaneceria a mesma. Era o início das Noites de Aeon.
As noites que se seguiram são difíceis de ser descritas. O primeiro povo a ser afetado foi o de Chenard, que viu seu solo fértil transformar-se em um grande campo negro, com árvores retorcidas e fendas fétidas. O plantio tornou-se praticamente inviável, levando não apenas a população a ficar sem comida, como os bois, cavalos e demais animais que lhe serviam de alimento ou suporte.
Além da dolorosa perda econômica, Chenard viu seus soldados batalharem com fantasmas e matarem uns aos outros, bem como crianças perderem os sentidos e rapazes sucumbirem a loucura. Gradativamente, a confiança do povo se esvaia e a família real temia pelo pior.
O rei de Chenard decidiu levar toda sua população para uma grande migração, abandonando sua terra e seu grande castelo. Partiram para além de Dalla Terra, onde esperavam encontrar suporte em reinos aliados
Sofrimento similar pôde ser visto em outras cidades e reinos. Em Wattu City, apesar dos Frêniks perceberem que algo alterado no solo os alertava sobre dias difíceis, tiveram mortes massivas de sua população, sobretudo dos anciãos responsáveis por narrar para as próximas gerações os conhecimentos históricos do seu povo. A única sobrevivente anciã era Alva Adenum, uma herbalista que passavam por um importante ritual durante a chegada de Daath.
O mesmo ocorreu com as cidades de Sallvi, Okwe City, Windur Gate e no povoado de Aika Tribe. Mortes inesperadas, delírios coletivos e uma constante sensação de perda pairava por sobre todos e todas. De alguma forma, qualquer habitante de Aiwass reconhece o pouco que sabe sobre as Noites, a não ser os grandes tremores de terra que puderam ser sentidos em todo o globo. Além disso, diversas culturas alegam que perderam parte significativa da sua população.
Alguns descrevem crianças implodindo como mingaus de trigo; e outros contam de corpos sendo devorados por nada mais que impulsos vindos da própria terra. Os mitos se confundem com a verdade e quase todos aceitam os mistérios não compreendidos e os lapsos de memória que habitam nas histórias entre gerações.
Todos os acontecimentos poderiam ser tratados pelas novas gerações como mitos ou invenções de anciãos que se perderam pelas lendas. Porém, todos sofrem com a existência e interferência contínua de Daath por toda Aiwass, além de solo sem fim que progride cada dia mais para a ruína de toda a terra.
Além dos aspectos geológicos, a violência tornou-se rotina em quase todas as cidades. Saqueamentos contínuos, formação de gangues e batalhas perpetuaram-se com assiduidade, sobretudo no porto de Ashkharh e em Okwe City, cidades com tecnologias mais expressivas e passagem maior de visitantes.
Com a hostilidade espalhada pelo continente, diversos andarilhos solitários passaram a vagar pelo mundo, escondidos pelas colinas de Sacred Mountains ou refugiados por alguns dias em Forgotten Cave. À medida que o tempo passava, as trocas de mercadorias existentes em cada território passaram a ser moedas fundamentais para a sobrevivência. Cada tribo, cidade, raça ou indivíduo utilizava os recursos oriundos do seu meio para que pudesse acumular os recursos faltantes de alimentação e proteção.
As trocas se tornaram intensas e, apesar do período de paz existente nos dias que se sucederam as Noites de Aeon, não demorou muito para os os escambos se tornarem motivo de conflitos. Batalhas violentas compuseram as narrativas que rondavam estes dias. Os poucos aliados alertavam sobre zonas perigosas e quais eram os seres mais sorrateiros e levianos para se negociar. Gradativamente, o ambiente se tornava hostil e pernicioso. Ninguém queria arriscar a própria vida ou de alguém do seu grupo, pois o número de seres vivos despencou significativamente e perder alguém significava perder mão de obra e até um apoio direto ao grupo.
Alguns crafters logo perceberam que seria preciso encontrar um modo de batalha que resguardasse a vida dos seus. Foi então que um Tinker conhecido como Thiroin encontrou uma forma de unificar seu conhecimento e a necessidade de proteção. Iniciou um estudo aprofundado de dominação a longo prazo e passou a testar a ventriloquia com almas perdidas nos dias das Noites de Aeon.
Com o tempo, seu experimento mostrou-se difícil. Não só era preciso que ele soubesse controlar a alma como era necessário que esta alma fosse forte o suficiente para suportar objetos, armaduras e até mesmo ataques de inimigos. Foram alguns invernos para que conseguisse encontrar uma alma forte o suficiente para suportar ao menos parte dos desafios.
Thiroin, então, convidou um antigo aliado para que, juntos, pudessem construir um campeão que lutasse em seus nomes e conquistasse os recursos para ambos. O ferreiro convidado possuía um grande acervo de metais necessários para fortificar a alma escolhida. Com o preparo certo, as peças passaram a obedecer aos comandos do necromante e do ferreiro, que iniciaram um longo trabalho de conquista, saqueando casas e vilas com seu campeão.
Não demorou muito para que outros campeões fossem erguidos por diferentes crafters que, unidos ou não, passaram a investigar a arte da *ventrilomancia* e a preparar armaduras para suas almas selecionadas. Gradativamente, o encontro entre campeões tornou-se comum e as batalhas exigiram dos artífices que aprimorassem suas armas e armaduras.
A procura por artefatos que correspondem ao controle das almas subiu drasticamente. Mesmo não crafters passaram a encomendar peças e a convocar suas próprias almas, de forma que cada um carregava seu próprio Daemon, seja como defesa ou como ferramenta de batalha e conquista.
Deste modo, as peças, artefatos e poções vinculadas aos campeões tornaram-se os itens mais valiosos para se ter em escambos. Todos procuravam insistentemente por peças que lhe salvasse dos perigos que rondavam toda Aiwass.
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